O Retrato de Dorian Gray - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 323 / 335

Mudou, é claro, mas não na aparência. Desejava que me dissesse o seu segredo. Para reaver a minha mocidade, tudo no mundo faria, excepto fazer exercício, levantar-me cedo ou ser respeitável. Mocidade! Nada há como ela! É absurdo falar da ignorância dos jovens. As únicas pessoas cuja opinião agora escuto com respeito são as mais novas do que eu. Afiguram-se-me marcharem à minha frente. A vida revelou-lhes a sua última maravilha. Quanto aos velhos, a esses contradigo-os sempre. Faço-o por princípio. Se lhes perguntar a sua opinião sobre alguma coisa sucedida ontem, dão-lhe solenemente as opiniões correntes em 1820, quando se usavam gravatas altas, se acreditava em tudo e se não sabia absolutamente nada. Que linda é essa música que está a tocar! Tê-la-ia Chopin escrito em Maiorca, com o mar a chorar em redor da vila e a espuma das ondas a bater-lhe nos vidros? É maravilhosamente romântica. Que felicidade que nos tenha ficado uma arte que não é imitativa! Não pare! Esta noite quero música. Parece-me que você é o jovem Apolo e que eu sou Mársias a escutá-lo. Tenho mágoas, Dorian, que nem sequer você conhece. A tragédia da velhice não está em sermos velhos, mas sim em sermos novos.




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