- Não sou o mesmo, não, Henry.
- É o mesmo, sim! Desejaria saber o que será o resto da sua vida. Não a estrague com renúncias. É agora um tipo perfeito. Não se ampute. Agora é absolutamente irrepreensível. Não meneie a cabeça: sabe bem que o é. Além disso, Dorian, não se iluda a si próprio. A vida é uma questão de nervos, de fibras e de células lentamente elaboradas, em que o pensamento se acoita e a paixão tem os seus sonhos. Pode imaginar-se seguro e considerar-se forte. Mas uma tonalidade casual num quarto ou num céu matinal, um perfume particular de que outrora gostou e que lhe evoca subtis recordações, um verso dum poema esquecido que de novo se lhe deparou, uma cadência dum trecho de música que havia deixado de tocar - afirmo-lhe, Dorian, é de coisas assim que dependem as nossas vidas. Browning fala disso algures; mas os nossos sentidos imaginá-las-ão por nós. Momentos há em que o aroma do lilás branco me acode subitamente, e tenho então de reviver o mais estranho mês da minha vida.