Já copiou as suas gravatas e pediu-me que lho apresentasse. É um rapaz delicioso e lembra-me um tanto você.
- Antes não lembrasse - disse Dorian, com um véu de tristeza nos olhos. - Mas estou cansado, Henry. Não vou ao clube. São quase onze horas e quero-me deitar cedo.
- Fique. Nunca tocou tão bem como esta noite. Havia na sua maneira de tocar o que quer que seja de maravilhoso. Tinha uma expressão como até hoje nunca eu tinha ouvido.
- É porque vou doravante ser bom - respondeu, sorrindo. - Estou hoje um pouco mudado.
- Para mim, Dorian, não pode mudar. Eu e você havemos sempre de ser amigos.
- Contudo, envenenou-me com um livro. Nunca lhe perdoarei isso. Henry, prometa-me que nunca emprestará esse livro a ninguém. Faz mal.
- Meu caro, aí está você a começar a pregar moral. Não tarda a andar por aí como os convertidos e os revivalistas, a prevenir toda a gente contra todos os pecados de que se enfastiou. Você é delicioso demais para se entregar a tal tarefa. Além do que, é inútil. Eu e você somos o que somos, e seremos o que formos. Quanto a livros que envenenam, é coisa que não existe. A arte nenhuma influência exerce sobre a acção. Aniquila o desejo de agir. É soberbamente estéril. Os livros que o mundo classifica de imorais são livros que mostram ao mundo a sua própria vergonha.