Desejaria poder trocar o meu lugar pelo seu, Dorian. O mundo tem bramado contra nós ambos, mas a você tem-no adorado, e há-de sempre adorá-lo. Você é o tipo daquilo que o século anda procurando e que receia haver encontrado. Estimo tanto que nunca tenha feito coisa alguma, que nunca tenha esculpido uma estátua, pintado um quadro ou produzido qualquer coisa que não seja você mesmo! A vida tem sido a sua arte. Você pôs-se a si mesmo em música. Os seus sonetos são os seus dias.
Dorian ergueu-se do piano e passou a mão pelo cabelo.
- Sim, a vida tem sido para mim deliciosa - murmurou - mas não quero continuar esse género de vida, Henry. E não deve dizer-me essas coisas extravagantes. Não sabe tudo a meu respeito. Creio que, se o soubesse, até você se afastaria de mim. Ri-se? Não se ria!
- Porque parou de tocar, Dorian? Volte para o piano e repita-me o nocturno. Olhe para aquela grande Lua cor de mel que paira nas sombras do céu. Está à espera de que você a encante, e, se você tocar, aproximar-se-á mais da Terra. Não quer tocar? Vamos então ao clube. Foi uma noite encantadora, e temos de lhe dar um fim igualmente encantador. Está no White alguém que deseja imensamente conhecê-lo: o jovem Lord Poole, o filho mais velho de Bournemouth.