O Retrato de Dorian Gray - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 328 / 335

Lembrou-se do prazer que sentia outrora ao ver que o apontavam, que o contemplavam ou que dele falavam. Agora estava já cansado de ouvir o seu nome. Metade do encanto da aldeiazinha onde ultimamente tantas vezes estivera provinha de ninguém lá saber quem ele era. Havia muitas vezes dito à rapariga cujo amor conseguira captar que era pobre, e ela acreditara-o. Havia uma vez dito que era mau, e ela rira-se dele e respondera que os maus eram sempre muito velhos e muito feios. Que gargalhada ele soltou! Parecia mesmo um tordo a cantar. E que linda ela era com os seus vestidos de algodão e os seus grandes chapéus! Ela nada sabia, mas possuía tudo o que ele havia perdido.

Ao chegar a casa, encontrou o criado à sua espera.

Mandou-o deitar-se e atirou-se para cima do sofá da biblioteca. Pôs-se então a pensar em algumas das coisas que Lord Henry lhe dissera.

Era realmente verdade que a gente nunca pode mudar?

Sentia uma saudade imensa da imaculada pureza dos seus tempos de rapaz - da sua alvi-rósea adolescência, como um dia dissera Lord Henry. Sabia que se havia envilecido, que havia atascado o seu espírito em corrupção e enchido de horror a sua fantasia; sabia que havia exercido uma influência perniciosa sobre os outros e que nisso experimentara um júbilo terrível; sabia que, das vidas que haviam atravessado a sua, fora a mais pura e a mais auspiciosa aquela que ele conspurcara de vergonha.





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