Mas era irreparável? Não havia para ele esperança?
Ah! Em que monstruoso momento de orgulho e paixão pedira que o retrato carregasse com o fardo dos seus dias e que ele conservasse o imaculado esplendor da eterna juventude! Era essa a causa de todas as suas desditas. Melhor fora que cada pecado da sua vida houvesse trazido consigo a sua certa e imediata punição. Havia purificação no castigo. A prece dum homem a um Deus justo não devia ser «perdoai-nos os nossos pecados», mas sim «castigai-nos pelas nossas iniquidades».
O espelho curiosamente esculpido que, havia tantos anos, lhe dera Lord Henry achava-se sobre a mesa, e os alvos Cupidos que o emolduravam riam como noutros tempos. Pegou nele, como fizera naquela noite de horror, em que pela primeira vez notara a alteração no fatal retrato, e mergulhou nele com avidez os olhos embaciados de lágrimas. Uma vez, alguém que doidamente o amara havia-lhe escrito uma carta desvairada, rematando por estas idólatras palavras: «O mundo mudou, tu és feito de marfim e oiro. As curvas dos teus lábios refazem a história.»
Voltaram-lhe à memória essas palavras, e repetia-as de si para si.