- Não me pertence, Henry.
- A quem pertence então?
- A Dorian, está claro - respondeu o pintor.
- É um rapaz de sorte!
- Que tristeza! - murmurou Dorian Gray, com os olhos fixos no retrato. - Que tristeza! Hei-de tornar-me medonho e horrível! Este retrato, porém, há-de ficar sempre jovem. Nunca será mais velho do que neste magnífico dia de Junho... Se fosse o contrário!... Se fosse eu que ficasse sempre jovem e o retrato que envelhecesse!... Para isso - para isso - fazia tudo! Sim, nada há no mundo que eu não desse! Até a minha alma daria!
- Você, Basil, é que não havia de gostar muito dum tal contrato - exclamou, rindo, Lord Henry. - A sua obra estragada...
- Opor-me-ia com todas as veras, Henry - respondeu Hallward.
Dorian Gray voltou-se e olhou para o pintor.
- Acredito-o, Basil. Você quer mais à sua arte que aos seus amigos. Eu não sou para si mais do que uma figura de bronze. Menos ainda talvez...
O pintor fitou-o, espantado. Não era costume de Dorian falar assim. Que acontecera? Parecia exasperado. Tinha o rosto enrubescido e as faces afogueadas.
- Sim - prosseguiu ele - sou para si menos do que o seu Hermes de marfim ou o seu Fauno de prata. Você há-de gostar deles sempre. E até quando gostará de mim?