O Retrato de Dorian Gray - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 40 / 335

- Não me pertence, Henry.

- A quem pertence então?

- A Dorian, está claro - respondeu o pintor.

- É um rapaz de sorte!

- Que tristeza! - murmurou Dorian Gray, com os olhos fixos no retrato. - Que tristeza! Hei-de tornar-me medonho e horrível! Este retrato, porém, há-de ficar sempre jovem. Nunca será mais velho do que neste magnífico dia de Junho... Se fosse o contrário!... Se fosse eu que ficasse sempre jovem e o retrato que envelhecesse!... Para isso - para isso - fazia tudo! Sim, nada há no mundo que eu não desse! Até a minha alma daria!

- Você, Basil, é que não havia de gostar muito dum tal contrato - exclamou, rindo, Lord Henry. - A sua obra estragada...

- Opor-me-ia com todas as veras, Henry - respondeu Hallward.

Dorian Gray voltou-se e olhou para o pintor.

- Acredito-o, Basil. Você quer mais à sua arte que aos seus amigos. Eu não sou para si mais do que uma figura de bronze. Menos ainda talvez...

O pintor fitou-o, espantado. Não era costume de Dorian falar assim. Que acontecera? Parecia exasperado. Tinha o rosto enrubescido e as faces afogueadas.

- Sim - prosseguiu ele - sou para si menos do que o seu Hermes de marfim ou o seu Fauno de prata. Você há-de gostar deles sempre. E até quando gostará de mim?





Os capítulos deste livro