Até me aparecer a primeira ruga. Sei, agora, que, quando a gente perde a sua boa aparência, seja ela qual for, perde tudo. Foi o seu quadro que mo ensinou. Lord Henry Wotton tem toda a razão. A mocidade é a única coisa que vale a pena ter. Quando eu vir que envelheço, mato-me.
Hallward empalideceu e agarrou-lhe na mão.
- Dorian! Dorian! - gritou. - Não fale assim! Eu nunca tive, nem jamais terei, um amigo como você. Não tem inveja das coisas materiais, não é verdade? Você é mais belo do que todas elas!
- Tenho inveja de tudo aquilo cuja beleza não morre. Tenho inveja do retrato que você de mim pintou. Por que há-de ele conservar o que eu hei-de perder? Cada momento que passa rouba-me alguma coisa para a dar a ele. Oh, se fosse o contrário! Se o retrato pudesse mudar e eu pudesse ficar sempre o que sou agora! Por que o pintou? Será para mim um dia um escárnio, um escárnio horrível!
Os olhos marejaram-se-lhe de lágrimas candentes; afastou as mãos e, atirando-se para cima do divã, enterrou o rosto nas almofadas, como se estivesse orando.
- Olhe o que fez, Henry - disse amargamente o pintor.
Lord Henry encolheu os ombros.
- Esse é que é o verdadeiro Dorian Gray, nada mais.
- Não é, não!
- Se não é, que tenho eu com isso?