Os dois amigos aproximaram-se languidamente da mesa e examinaram o que estava por baixo das tampas que cobriam os pratos.
- Vamos hoje ao teatro - disse Lord Henry. - Há com certeza alguma coisa, algures. Prometi jantar no White, mas é só com um velho amigo, e por isso posso mandar-lhe um telegrama a dizer-lhe que estou doente ou que me é impossível ir por causa dum compromisso ulterior. Acho que seria uma bela desculpa: teria toda a surpresa da candura.
- É uma tal maçada encasacar-se a gente - murmurou Hallward. - Que coisa horrível é uma casaca, depois de vestida!
- Sim - respondeu Lord Henry, devaneando.
- O trajo do século XIX é detestável. É tão sombrio, tão depressivo. O pecado é o único elemento que na realidade dá cor à vida moderna.
- Não deve dizer coisas dessas diante de Dorian, Henry.
- Diante de qual Dorian? Do que nos está a servir o chá ou do que está no quadro?
- De ambos.
- Gostaria de ir com Lord Henry ao teatro - disse o Jovem.
- Então venha; e você vem também, Basil, não é?
- Não posso. Tenho muito que fazer.
- Bem, então, iremos nós ambos, Sr. Gray.
- Teria imenso gosto.
O pintor mordeu os lábios e dirigiu-se, de chávena na mão, para o retrato.