- Adoro os prazeres simples - disse Lord Henry.
- São o derradeiro refúgio dos complexos. Mas não gosto de cenas, a não ser no palco. Que absurdos vocês ambos são! Sempre desejava saber quem foi que definiu o homem como animal racional. É a definição mais irreflectida que jamais se deu. O homem é muita coisa, mas racional é que não é. Folgo muito que o não seja, afinal de contas, embora eu deseje que não briguem por causa do retrato. Seria muito melhor dar-mo, Basil. Este menino pateta com certeza não o quer, e eu quero-o.
- Se o der a alguém que não seja eu, Basil, nunca lho perdoarei! - bradou Dorian Gray. - E não admito que me chamem menino pateta.
- Você sabe que o retrato lhe pertence, Dorian. Dei-lho antes de ele existir.
- E o Sr. Gray sabe muito bem que foi um bocadinho pateta e não levará a mal que eu lhe lembre que é extremamente novo.
- Levaria muito a mal esta manhã, Lord Henry.
- Ah! Esta manhã! Viveu desde então!
Bateram à porta. Entrou o mordomo com um tabuleiro e pousou-o sobre uma mesinha japonesa. Ouviu-se o tinir das chávenas e pires e o sibilar duma chaleira. Dois pratos de porcelana cobertos foram trazidos por um criado. Dorian Gray levantou-se e serviu o chá.