O Retrato de Dorian Gray - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 50 / 335

- Neto de Kelso! - exclamou o ancião. - Neto de Kelso!... É claro... conheci a mãe intimamente. Parece-me que assisti ao seu baptizado. Era uma formosura extraordinária, Margaret Devereux; e deixou todos os homens furibundos, fugindo com um rapaz sem vintém; um ninguém, subalterno num regimento de infantaria, ou coisa que o valha. Decerto. Lembro-me de tudo como se fosse ontem. O pobre moço foi morto num duelo em Spa, poucos meses depois do casamento. Correu a esse respeito uma história nada limpa. Disse-se que Kelso arranjara um malandrim, um brutamontes belga, para insultar o genro em público; pagou-lhe, é claro, para isso; e que o tipo o matou como se fora um pombo. A coisa abafou-se, mas o facto é que, durante algum tempo, Kelso comeu sozinho no clube a sua costeleta. Disseram-me que levara para casa a filha, mas ela nunca mais lhe falou. Oh, sim; foi um ruim negócio. A filha morreu também; morreu em menos de um ano. Então deixou um filho, Henry? Tinha-me esquecido disso. Que tal é? Se sai à mãe, deve ser um belo rapaz.

- É um encanto - confirmou Lord Henry.

- Oxalá que caia em boas mãos! - prosseguiu o velho. - Devia ter muito dinheiro à sua espera, se Kelso zelasse bem pelos seus interesses.





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