O Retrato de Dorian Gray - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 54 / 335

Por trás de tudo o que de belo existia no mundo havia sempre alguma coisa trágica. Os mundos tinham de sofrer para a mais modesta flor poder desabrochar... E que encantador era aquele rapaz! Falar-lhe era como que tocar um violino maravilhoso. Respondia a cada vibração do arco... Havia alguma coisa terrivelmente empolgante no exercício da influência... Nenhuma outra actividade se lhe assemelhava. Projectar a nossa própria alma em alguma forma graciosa e deixá-la aí demorar-se por um momento; ouvir as nossas próprias opiniões, as nossas visões intelectuais, reenviadas até nós como um eco, enriquecidas com toda a música da paixão e da mocidade; insinuar noutrem o nosso temperamento, como se fora um subtil ou um estranho perfume; havia nisso um autêntico gozo - talvez o gozo mais grato que nos foi deixado, numa época tão tacanha e vulgar como a nossa, grosseiramente carnal nos seus prazeres e charra nos seus objectivos...

Era, sim, um tipo admirável esse rapaz que, por tão curioso acaso, encontrara no atelier de Basil; ou, pelo menos, podia ser moldado num tipo admirável. Tinha a graça, a imaculada pureza da adolescência, a beleza tal como no-la legaram os velhos mármores gregos. Nada havia que dele se não pudesse fazer.





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