Podia-se fazer dele um titã ou um brinquedo. Que pena que tal beleza estivesse destinada a mirrar-se…
E Basil? Sob o ponto de vista psicológico, que interessante era! A nova maneira na arte, o novo modo de encarar a vida tão estranhamente sugerido pela presença meramente visível de alguém que de tal permanecia absolutamente inconsciente; o espírito silente que habitava as florestas e percorria, invisível, os descampados, mostrando-se subitamente, qual uma Dríade sem medo, porque na sua alma, que a andara buscando, despertara essa prodigiosa visão, única a que se revelam as coisas prodigiosas; as meras formas e os moldes das coisas requintando-se, por assim dizer, e ganhando uma espécie de valor simbólico, como se fossem moldes de alguma outra forma mais perfeita, cuja sombra tornavam real: que estranho era tudo isso!
Recordava-se de algo semelhante na história. Não foi Platão, esse artista do pensamento, que primeiro os analisara? Não foi Buonarrotti que o esculpira nos mármores coloridos duma série de sonetos? No nosso século, porém, era estranho. Sim; esforçar-se-ia por ser para Dorian Gray o que, sem o saber, o jovem fora para o artista que pintara o estupendo retrato. Procuraria dominá-lo - na verdade, já ia em meio. Havia de apropriar-se desse maravilhoso espírito. Havia o seu quê de fascinante neste filho do Amor e da Morte.