O Retrato de Dorian Gray - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 62 / 335

- O rubor fica muito bem, duquesa - observou Lord Henry.

- Mas é só quando a gente é nova - replicou ela.

- Quando uma velha como eu cora, é muito mau sinal. Ah! Lord Henry, desejava que me dissesse o que hei-de fazer para tornar a ser nova.

Lord Henry meditou um momento. Depois perguntou, fitando-a:

- Pode recordar-se, duquesa, de algum grande erro que tenha cometido na sua mocidade?

- Cometi muitos! - exclamou ela.

- Então cometa-os outra vez! - aconselhou ele gravemente. - Para regressarmos à mocidade basta-nos repetir as nossas loucuras.

- É uma teoria deliciosa - comentou a duquesa.

- Tenho de a pôr em prática.

- É uma teoria perigosa! - opinou Sir Thomas por entre os dentes.

Lady Agatha meneou a cabeça, mas não pôde esquivar-se a achar-lhe graça. O Sr. Erskine escutava.

- Sim - prosseguiu ele -, é um dos grandes segredos da vida. Hoje em dia a maior parte da gente morre duma espécie de rasteiro senso comum, e descobre, quando já é demasiado tarde, que as únicas coisas que nunca se lamentam são os próprios erros.

Correu uma risada em volta da mesa.

Lord Henry brincava com a ideia, e fazia dela o que queria: atirava-a ao ar e transformava-a; deixava-a fugir e apanhava-a de novo; irisava-a com as cambiantes da imaginação e aligeirava-a com as asas do paradoxo.





Os capítulos deste livro