O elogio da loucura, à medida que ele ia discorrendo, foi ascendendo até à Filosofia, e a própria Filosofia rejuvenescia, e, apropriando-se da louca música do Prazer, envergando, poderia imaginar-se, a túnica de vinho e a coroa de heras, dançava como uma Bacante sobre as colinas da Vida e escarnecia da sobriedade do moroso Sileno. Os factos fugiam na sua frente como Dríades assustadas. Os seus alvos pés pisavam o enorme lagar em que está sentado o avisado Ornar, até o mosto borbulhante lhe envolver os membros nus em ondas purpúreas ou, em cachões de rubra espuma, lamber as negras paredes da selha.
Era uma improvisação extraordinária. Sentia cravados em si os olhos de Dorian Gray, e a consciência de que entre os ouvintes havia um -cujo temperamento ele desejava fascinar, parecia aguçar o gume do seu espírito e emprestar cor à sua imaginação. Foi brilhante, fantástico, teve requintes alados de inspiração. Empolgou os ouvintes, que o seguiam com prazer nos seus arroubos. Dorian Gray não desfitava dele os olhos: imóvel na sua cadeira, como que enfeitiçado, os sorrisos sucediam-se-lhe nos lábios, uns após outros, e o assombro anuviava-lhe os olhos graves.
Por fim, disfarçada no trajo do século, fez a Realidade a sua entrada na sala, sob a forma duma linda criada, que vinha comunicar à duquesa que a sua carruagem a esperava. A duquesa torceu as mãos num gesto de fingido desespero.