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- Nada mais verdadeiro.
- Mas não dissemos que, em consequência desta convicção e desta maneira de falar, haveria entre eles comunidade de alegrias e tristezas?
- Sim, e dissemo-lo com razão.
- Os nossos cidadãos estarão fortemente unidos naquilo a que chamarão o seu próprio interesse e, assim unidos, experimentarão alegrias e tristezas em perfeita comunhão.
-Assim é.
- Ora, qual será a causa disso senão - para além das nossas outras instituições - a comunidade das mulheres e dos filhos estabelecida entre os guardas?
- Sem dúvida que será essa a causa principal.
- Mas nós concordámos que essa união de interesses era, para a cidade, o maior bem, quando comparávamos uma cidade sabiamente organizada ao corpo, no modo como este se comporta em relação a uma das suas partes, quanto ao que diz respeito ao prazer e à dor.
- E concordámos acertadamente,
- Por conseguinte, está demonstrado que a causa do maior bem que pode acontecer na cidade é a comunidade, entre os auxiliares, das crianças e das mulheres.
- Com certeza.
- Acrescenta que estamos de acordo com os nossos anteriores raciocínios. Com efeito, dissemos que não deviam possuir nem casas, nem terras nem qualquer outra propriedade, mas, recebendo dos outros cidadãos tanto o alimento como o salário, devem pô-las em comum, se quiserem ser guardas autênticos.
-Muito bem.
- Assim, não tenho razão para afirmar que as nossas disposições anteriores, juntas às que acabamos de tomar, farão deles guardas ainda mais autênticos e os impedirão de dividir a cidade, o que sucederia se cada um não chamasse suas às mesmas coisas, mas a coisas diferentes? Se, habitando separadamente, levassem para as suas respectivas casas tudo aquilo de que pudessem garantir a posse exclusiva? E se, tendo mulher e filhos diferentes, imaginassem alegrias e tristezas pessoais - ao passo que, com urna crença idêntica a respeito do que lhes pertence, terão todos o mesmo objectivo e experimentarão, tanto quanto possível, as mesmas alegrias e as mesmas dores?
- É incontestável.
- Ora bem! Não se verá, mais ou menos, desaparecer processos e acusações de uma cidade onde cada um só terá de seu o corpo e onde tudo o resto será comum? Não se segue daqui que todos os nossos cidadãos estarão ao abrigo de todas as discórdias que provoca entre os homens a posse de riquezas, filhos e parentes?
