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Capítulo 6: Capítulo 6

Página 172

- Tal é, ó maravilhoso amigo, em toda a sua extensão, a corrupção que perde as melhores naturezas, feitas para a melhor das profissões, aliás bem raras, como observámos. É de homens assim que saem não só os que causam os maiores males às cidades e aos particulares, mas também os que lhes fazem o maior bem quando seguem o caminho certo; mas um temperamento medíocre nunca faz nada de grande a favor ou em detrimento de alguém, simples particular ou cidade.

- Nada mais verdadeiro.

- Portanto, esses homens, nascidos para a filosofia, tendo-se afastado dela e tendo-a deixado só e infecunda, para levarem uma vida contrária à sua natureza e à verdade, permitem que outros, indignos, se introduzam junto dessa órfã abandonada dos seus parentes, a desonrem e lhe granjeiem as críticas com que dizes que a sobrecarregam os seus detractores: a saber, que, daqueles que têm trato com ela, alguns não valem nada e a maioria merece os maiores males.

- Efectivamente, é o que se diz.

- E não sem razão - prossegui. - Com efeito, vendo o lugar vazio, mas cheio de belos nomes e belos títulos, homens sem valor, à maneira dos evadidos da prisão que se refugiam nos templos, trocam alegremente a sua profissão pela filosofia, apesar de serem competentíssimos no seu humilde ofício. Também, em relação às outras artes, a filosofia, mesmo no estado em que se encontra, conserva uma eminente dignidade que a leva a ser procurada por uma multidão de gente de natureza inferior e na qual o exercício de um oficio mecânico consumiu e mutilou a alma, ao mesmo tempo que deformou o corpo. E isto não é inevitável?

- Sem dúvida.

- Ao vê-los, não pensas num ferreiro calvo e baixo que, tendo ganho dinheiro e posto de parte os seus ferros, corre ao banho, lava-se, veste um fato novo e, elegante como um noivo, vai desposar a filha do seu patrão, que a pobreza e o isolamento reduziram a semelhante extremo?

- É isso mesmo.

- Ora, que filhos poderão nascer de semelhantes esposos? Seres bastardos e definhados?

- Forçosamente.

- Pois bem! Essas almas indignas de cultura, quando se abeiraram da filosofia e tiveram com ela um trato indigno, que ideias e que opiniões, segundo nós, manifestarão? Sofismas, não é assim? - para lhes dar o seu verdadeiro nome -, nada de legítimo, nada que encerre uma parte de sabedoria autêntica.

- Com toda a certeza - disse ele.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 172

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265