— És um impudente, Sócrates — respondeu. — Agarras as minhas palavras por onde podes atacá-las melhor!
— De modo nenhum, homem excelente — retorqui. — Mas exprime-te mais claramente.
— Pois bem! Não sabes que, entre as cidades, umas são tirânicas, outras democráticas, outras aristocráticas?
— Como não havia de saber?
— Ora, o elemento mais forte, em cada cidade, é o Governo?
— Sem dúvida.
— E cada Governo estabelece as leis para sua própria vantagem: a democracia, leis democráticas; a tirania, leis e as outras a mesma coisa; estabelecias estas leis, declaram justo, para os governados, a sua própria vantagem, e castigam quem o transgrido como violador da lei e culpado de injustiça. Aqui tens, homem excelente, o que afirmo: em todas as cidades o justo é a mesma coisa: o que é vantajoso para o Governo constituído; ora, este é o mais forte, de onde se segue, para um homem que raciocine bem, que em toda a parte o justo é a mesma coisa: a vantagem do mais forte.
— Agora — disse eu — compreendi o que dizes; é verdade ou não? Procurarei estudá-lo. Portanto, também tu, Trasímaco, respondeste que o que é vantajoso era o justo, depois de me teres proibido de dar essa resposta, acrescentando, no entanto: a vantagem do mais forte».
— Uma pequena adição, talvez? — disse ele.
— Ainda não é evidente que seja grande; mas é evidente que é preciso ver se falas verdade. Reconheço contigo que o justo é algo de vantajoso; mas tu acrescentas à definição que é a vantagem do mais forte; por mim, ignoro-o: tenho de analisá-lo.
— Analisa — disse ele.
— Fá-lo-ei — prossegui. — E diz-me: não pretendes que é justo obedecer aos governantes?
— Pretendo.