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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 203

- É certo - disse ele - que exerce um encanto extraordinário. Mas explica-me mais claramente o que dizias há pouco. Punhas em primeiro lugar a ciência das superfícies ou geometria.

-Sim.

- E a astronomia logo a seguir; depois, voltaste atrás.

- É que, na minha ânsia de expor rapidamente tudo isto, recuo em vez de avançar. Com efeito, depois da geometria vem a ciência que estuda a dimensão de profundidade; mas como ainda não deu lugar senão a pesquisas ridículas, deixei-a, para passar à astronomia, isto é, ao movimento dos sólidos.

- É exacto.

- Ponhamos, portanto, a astronomia em quarto lugar, pressupondo que a ciência que deixamos agora de lado se constituirá quando a cidade se ocupar dela.

- É verosímil- disse ele. - Mas, como me censuraste há pouco por fazer um elogio desajeitado da astronomia, vou louvá-la agora em conformidade com o ponto de vista sob o qual a encaras. Parece-me evidente para toda a gente que ela obriga a alma a olhar para o alto e a passar das coisas deste mundo às coisas do céu.

. - Talvez - repliquei - seja evidente para toda a gente, menos para mim; com efeito, não penso assim.

- Como pensas, então? - perguntou.

- Da maneira como a tratam os que pretendem fazê-la passar por filosofia, ela faz, a meu ver, olhar para baixo. - Como explicas isso?

- Francamente! Não falta audácia à tua concepção do estudo das coisas do alto! Pareces acreditar que um homem que olhasse para os ornamentos de um tecto, de cabeça inclinada para trás, e aí distinguisse alguma coisa, utilizaria, ao fazê-lo, a razão, e não os olhos! Talvez, afinal, sejas tu quem pensa bem e eu tolamente; mas não posso reconhecer outra ciência que faça olhar para o alto, excepto a que tem por objecto o ser e o invisível; e, se alguém tenta estudar uma coisa sensível olhando para cima, de boca aberta, ou para baixo, de boca fechada, afirmo que nunca aprenderá - porque a ciência não comporta nada de sensível- e a sua alma não olha para cima, mas para baixo, mesmo que estude deitado de costas no chão ou flutuando de costas no mar!

- Tens razão em me criticares; tenho o que mereço. Mas como é que dizias que era preciso reformar o estudo da astronomia para a tornar útil ao nosso propósito?

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 203

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265