- Queres dizer seis ou quatro anos? - perguntou.
- Pouco importa, digamos cinco anos. Depois fá-los-ás descer de novo
à caverna e obrigá-los-ás a desempenhar os cargos militares e todas as funções adequadas aos jovens, a fim de que, no que respeita à experiência, não se atrasem em relação aos outros. E tu exercitá-los-ás na prática dessas funções, para ver se, solicitados de todos os lados pela tentação, se mantêm firmes ou se deixam abalar.
- E que tempo estabeleces para isso?
- Quinze anos - respondi. - E, quando tiverem atingido a idade de cinquenta anos, os que saírem sãos e salvos destas provas e se tiverem distinguido em tudo e de toda a maneira, na sua conduta e nas ciências, deverão ser levados ao termo e obrigados a elevar a parte brilhante da sua alma para o se que dispensa a luz a todas as coisas; e, quando tiverem contemplado bem em si mesmo, usá-lo-ão como um modelo para dirigirem a cidade, os particulares e a sua própria pessoa, cada um por sua vez, durante o resto da sua vida; passarão a maior parte do tempo no estudo da filosofia, mas, quando chegar a sua vez, aceitarão trabalhar nas tarefas de administração e governo, por amor à cidade, vendo nisso não uma ocupação nobre, mas um dever indispensável; e, assim, depois de terem formado sem cessar homens que se lhes assemelhem, para lhes deixarem a guarda do Estado, irão habitar as ilhas dos bem-aventurados. A cidade consagrar-lhes-á monumentos e sacrifícios públicos, a título de demónios, se a Pítia o permitir, senão a título de almas bem-aventuradas e divinas.
- São realmente belos, Sócrates - exclamou -, os governantes que acabas de modelar como um escultor!
- E as governantas também, Gláucon - acrescentei -, porque não julgues que o que eu disse se aplica mais aos homens do que às mulheres isto é, àquelas que tiverem aptidões naturais suficientes.
- Tens razão - confessou -, uma vez que tudo deve ser igual e comum entre elas e os homens, como decidimos.