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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 222

- Um homem assim - acrescentei - poderá, durante a juventude, desprezar as riquezas, mas quanto mais idade tiver mais as amará, porque a sua natureza incita-o à avareza e a sua virtude, privada do seu melhor guarda, não é pura.

- Qual é esse guarda? - perguntou Adimanto.

- A razão - respondi - aliada à música; só ela, uma vez fixada na alma, se mantém toda a vida como conservadora da virtude.

- Bem dito.

- Assim é o jovem ambicioso, imagem da cidade timocrática.

- Com certeza.

- Forma-se - prossegui - mais ou menos da seguinte maneira. Às vezes é o jovem filho de um homem de bem, habitando uma cidade mal governada, que evita as honras, os cargos, os processos e todos os incómodos desta espécie e que aceita a mediocridade, a fim de não ter aborrecimentos.

- E como se forma?

- Em primeiro lugar - respondi - ouve a mãe queixar-se por o marido não ser do número dos magistrados, o que a diminui junto das outras mulheres; por vê-lo demasiado pouco ansioso de enriquecer, não sabendo nem lutar nem usar a invectiva, quer em privado, perante os tribunais, quer em público, na Assembleia, indiferente a tudo em tal matéria; por notar que está sempre ocupado consigo mesmo e não tem realmente por ela nem estima nem desprezo. Indigna-se com tudo isso, dizendo-lhe que o seu pai não é um homem, que carece de energia e cem outras coisas que as mulheres costumam dizer em tais casos.

- Sem dúvida - disse Adimanto - que é um nunca acabar e muito de acordo com a sua natureza.

- E tu sabes - continuei - que até os servidores dessas famílias, que parecem bem intencionados, usam por vezes, em segredo, a mesma linguagem para com as crianças; e, quando notam que o pai não persegue um devedor ou uma pessoa que o ofendeu, exortam o filho a mandar punir semelhante gente, quando for grande, e a mostrar-se mais viril que o pai. Mal sai de casa, ouve outros discursos semelhantes e vê que aqueles que não se ocupam senão dos seus negócios na cidade são tratados como imbecis e tidos em pouca estima, ao passo que os que se ocupam dos negócios dos outros são honrados e louvados.

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pág. 222 (Capítulo 8)

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 222

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265