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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 247

- Ora - prossegui -, se num Estado os homens deste género são

em pequeno número e o resto do povo é são, eles partem para irem servir de satélites a um tirano qualquer ou se alistarem como mercenários, se houver guerra em qualquer parte; mas, se a paz e a tranquilidade reinam por todo o lado, ficam na cidade e cometem aí um grande número de pequenos delitos.

- A que delitos te referes?

- Por exemplo, furtam, abrem fendas nas paredes, cortam as bolsas, roubam os transeuntes, capturam e traficam escravos e por vezes, quando sabem falar, são sicofantas, falsas testemunhas e prevaricadores.

- É, portanto, a isso que chamas pequenos delitos, contanto que esses homens sejam em pequeno número!

- Sim - respondi -, dado que as pequenas coisas só são pequenas em comparação com as grandes, e todos estes delitos, no que respeita à sua influência sobre a miséria e a infelicidade da cidade, nem sequer se aproximam, como se diz, da tirania. Com efeito, quando tais homens e os que os seguem são numerosos num Estado e tomam consciência do seu número, são eles que, ajudados pela estupidez popular, engendram o tirano na pessoa daquele que tem na sua alma o tirano maior e mais completo.

- É natural- disse ele -, porque será o mais tirânico.

- E então pode suceder que a cidade se submeta voluntariamente; mas, se resistir, assim como outrora maltratava o pai e a mãe, castigará a sua pátria, se tiver poder para isso, e introduzirá nela novos companheiros e, entregando-lhes aquela que outrora lhe foi querida, a sua mátria, como dizem os Cretenses, e a sua pátria, alimentá-la-á na escravidão. E é a isto que levará a paixão do tirano.

- Perfeitamente - disse ele.

- Agora, na vida privada, e antes de chegarem ao poder, esses homens não se comportam da mesma maneira? Em primeiro lugar, vivem com pessoas que são para eles aduladores prontos a obedecer-lhes em tudo ou, se têm necessidade de alguém, cometem baixezas, ousam desempenhar todas as funções para lhe demonstrarem a sua dedicação, com o inconveniente de se recusarem a conhecê-lo, uma vez atingidos os seus fins.

- É verdade.

- Durante toda a vida, não são amigos de ninguém, sempre déspotas ou escravos; quanto à liberdade e à amizade autênticas, um carácter tirânico nunca as sente.

- Sem dúvida.

- Portanto, não temos razão para lhes chamarmos homens sem fé?

- Como não?

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 247

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265