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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 268

- Temos, portanto, de considerar agora a tragédia e Homero, que é o seu pai, visto que ouvimos certas pessoas dizerem que os poetas trágicos são versados em todas as artes, em todas as coisas humanas relativas à virtude e ao vício e até nas coisas divinas; efectivamente, é necessário, dizem elas, que o bom poeta, se quer criar uma obra bela, conheça os assuntos de que trata, de outro modo não será capaz de criar. Temos, portanto, de ver se essas pessoas, tendo deparado com imitadores desta natureza, não foram enganadas pela contemplação das suas obras, não se apercebendo de que estão afastadas no terceiro grau do real e que, sem conhecer a verdade, é fácil executá-las (porque os poetas criam fantasmas, e não realidades), ou se a sua afirmação tem algum sentido e se os bons poetas sabem realmente e aquilo de que, no entender da multidão, falam tão bem.

- Perfeitamente - disse ele -, temos de ver isso.

- Ora, achas que, se um homem fosse capaz de fazer indiferentemente o objecto a imitar e a imagem, preferiria consagrar a sua actividade à fabricação das imagens e poria esta ocupação no primeiro plano da sua vida, como se para ele não houvesse nada melhor?

- Não, certamente.

- Mas, se fosse realmente versado no conhecimento das coisas que imita, suponho que se dedicaria muito mais a criar do que a imitar, que procuraria deixar atrás de si um grande número de obras belas, assim como monumentos, e que estaria muito mais interessado em ser louvado do que em louvar os outros.

- Julgo que sim - respondeu -, porque não há, nesses dois papéis, igual honra e proveito.

- Portanto, para muitas coisas, não peçamos contas a Homero nem a nenhum outro poeta; não lhes perguntemos se um deles foi médico, e não apenas imitador da linguagem dos médicos, que curas se atribuem a um poeta qualquer, antigo ou moderno, como a Asclépio, ou que discípulos eruditos em medicina deixou atrás de si, como Asclépio deixou os seus descendentes. De igual modo, a propósito das outras artes, não os interroguemos, deixemo-los em paz. Mas sobre os assuntos mais importantes e mais belos que Homero decide tratar, sobre as guerras, o comando dos exércitos, a administração das cidades, a educação do homem, talvez seja justo interrogá-lo e dizer-lhe: «Caro Homero, se é verdade que, no que respeita à virtude, não estás afastado no terceiro grau da verdade - obreiro da imagem, como definimos o imitador -, se te encontras no segundo grau e nunca foste capaz de saber que práticas tornam os homens melhores ou piores, na vida privada e na vida pública, diz-nos qual, entre as cidades, graças a ti, se governou melhor, como, graças a Licurgo, o Lacedemónio, e graças a muitos outros, muitas cidades, grandes e pequenas?

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 268

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265