— Se acho? Por Zeus, tenho a certeza!
— Mas como, Trasímaco! — retorqui. — Não notaste que ninguém aceita exercer os outros cargos por eles mesmos, que, pelo contrário, se exige uma retribuição, porque não é ao próprio que o seu exercício aproveita, mas aos governados? Depois, responde a isto: não se diz sempre que uma arte distingue-se de outra por ter um poder diferente? E, homem bem-aventurado, não respondas contra a tua opinião, a fim de que possamos avançar!
— Mas é nisso — disse — que ela se distingue.
— E cada um de nós não procura obter um certo beneficio particular e não comum a todos, como a medicina a saúde, a pilotagem a segurança na navegação e assim por diante?
— Sem dúvida.
— E a arte do mercenário, o salário, visto que reside ai o meu próprio poder? Confundes juntamente a medicina e a pilotagem? Ou, para definir as palavras com rigor, como propuseste, se alguém recupera a saúde governando um navio, porque é vantajoso para ele navegar no mar, chamarás por isso medicina à sua arte?
— Com certeza que não — respondeu.
— Mas como! Chamarás à medicina arte do mercenário porque o médico, ao curar, ganha salário?
— Não — disse ele.
— Não reconhecemos que cada arte procura obter um beneficio particular?
— Seja — admitiu.
— Portanto, se todos os artesãos beneficiam em comum de um certa lucro, é evidente que acrescentam à sua arte um elemento comum de que tiram proveito?
— Assim parece — disse ele.