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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 270

- Ora, aceitaremos como princípio que todos os poetas, a começar por Homero, são simples imitadores das aparências da virtude e dos outros assuntos de que tratam, mas que, quanto à verdade, não a atingem: semelhantes nisso ao pintor de que falávamos há instantes, que desenhará uma aparência de sapateiro, sem nada perceber de sapataria, para pessoas que, não percebendo mais do que ele, julgam as coisas segundo a cor e o desenho?

- Perfeitamente.

- Diremos também, julgo eu, que o poeta aplica a cada arte cores adequadas, com as suas palavras e frases, de tal modo que, sem ser competente senão para imitar, junto daqueles que, como ele, só vêem as coisas segundo as palavras, passa - quando fala, observando o ritmo, a métrica e a harmonia, quer de sapataria, quer de arte militar, quer de qualquer outra coisa -, passa, dizia eu, por falar muito bem, tal o encanto que esses ornamentos têm naturalmente e em si mesmos! Com efeito, despojadas do seu colorido artístico e citadas pelo sentido que encerram, sabes bem, creio eu, que figura fazem as obras dos poetas, visto que também tu assististe a isso.

- É verdade - confessou.

- Não se assemelham aos rostos das pessoas que não têm outra beleza além do viço da juventude, quando esse viço passou?

- É inteiramente exacto.

- Pois bem, considera isto: o criador de imagens, o imitador, não entende nada da realidade, só conhece a aparência, não é assim?

-É.

- Ora bem! Não deixemos o assunto a meio, vejamo-lo como convém.

- Fala - disse ele.

- Dizemos que o pintor pintará rédeas e um freio.

- Sim.

- Mas o correeiro e o ferreiro é que os fabricarão.

- Certamente.

- Ora, é o pintor que sabe como devem ser feitos o freio e as rédeas? É mesmo aquele que os fabrica, ferreiro ou correeiro? Não é antes aquele que aprendeu a servir-se deles, o simples cavaleiro?

- É verdade.

. - Não diremos que o mesmo se passa em relação a todas as coisas?

- Como

- Há três artes que correspondem a cada objecto: as do uso, da fabricação e da imitação.

- Sim, há.

- Mas para que tendem a qualidade, a beleza, a perfeição de um móvel, de um animal, de uma acção, senão para o uso, com vista ao qual cada coisa é feita, quer pela natureza, quer pelo homem?

- Para nada mais.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 270

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265