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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 271

- Por conseguinte, é forçoso que o utente de uma coisa seja o mais experimentado e informe o fabricante das qualidades e defeitos da sua obra, relativamente ao uso que faz dela. Por exemplo, o tocador de flauta informará o fabricante acerca das flautas que poderão servir-lhe para tocar; dir-lhe-á como deve fazê-las e aquele obedecerá.

- Sem dúvida.

- Portanto, o que sabe pronunciar-se-á sobre as flautas boas e más e o outro trabalhará confiando no primeiro.

- Certamente.

- Assim, em relação ao mesmo instrumento, o fabricante tem, acerca da sua perfeição ou imperfeição, uma confiança que será exacta, porque está em ligação com aquele que sabe e é obrigado a ouvir as suas opiniões, mas é o utente quem tem a ciência.

- Perfeitamente.

- Mas o imitador estará na posse do uso da ciência das coisas que representa, saberá se elas são belas e correctas ou não - ou terá delas uma opinião recta porque será obrigado a pôr-se em ligação com o que sabe e a receber as suas instruções, quanto à maneira de representá-las?

- Nem uma coisa nem outra.

- O imitador não tem, portanto, nem ciência nem opinião recta no que respeita à beleza e aos defeitos das coisas que imita.

- Não, segundo parece.

- Será então encantador o imitador em poesia, pela sua inteligência dos assuntos tratados!

- Não tanto como isso!

- Contudo, não deixará de imitar, sem saber por que motivo uma coisa é boa ou má; mas, provavelmente, imitará o que parece belo à multidão e aos ignorantes.

- E que mais poderia fazer?

- Eis, pois, segundo parece, dois pontos sobre os quais estamos de acordo: em primeiro lugar, o imitador não tem nenhum conhecimento válido do que imita e a imitação é apenas uma espécie de jogo infantil; em segundo lugar, os que se consagram à poesia trágica, quer componham em versos jâmbicos ou em versos épicos, são imitadores em grau supremo.

- Com certeza.

- Mas, por Zeus! - exclamei. - Essa imitação não está afastada no terceiro grau da verdade?

- Está.

- Por outro lado, sobre que outro elemento do homem exerce o poder

que tem?

- A que te queres referir?

- A isto: a mesma grandeza, olhada de perto ou de longe, não parece igual.

- Não, por certo.

- E os mesmos objectos parecem quebrados ou inteiros consoante os olhamos na água ou fora da água, ou côncavos e convexos devido à ilusão visual produzida pelas cores; e é evidente que tudo isto lança a perturbação na nossa alma.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 271

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265