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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 273

- Façamos a pergunta da seguinte maneira: a imitação, segundo dizemos, representa os homens que actuam voluntariamente ou à força, pensando, segundo os casos, que agiram bem ou mal e entregando-se em todas estas conjunturas quer à dor quer à alegria. Não há nada mais no que ela faz?

- E um desses elementos está disposto a obedecer à lei em tudo o que ela prescreve.

- Como?

- A lei diz que não há nada mais belo do que manter a calma, tanto quanto possível, na infelicidade, e não se afligir, porque não se vê claramente o bem ou o mal que ela comporta, não se ganha nada em indignar-se, nenhuma das coisas humanas merece ser tomada muito a sério e o que deveria, nestas ocasiões, vir assistir-nos o mais depressa possível é impedido disso pelo desgosto.

-'- De que estás a falar? - perguntou.

-. Da reflexão sobre o que nos aconteceu - respondi. - Como num lançamento de dados, devemos, consoante o lote que nos toca, restabelecer os nossos assuntos pelos meios que a razão nos prescreve como sendo os melhores e, quando vamos de encontro a qualquer coisa, não agir como as crianças que, agarrando a parte magoada, perdem o tempo a gritar, mas, pelo contrário, habituar incessantemente a nossa alma a ir o mais depressa possível tratar o que está ferido, levantar o que está caído e fazer calar os lamentos mediante a aplicação do remédio.

- Aí está, certamente, o melhor que temos a fazer nos acidentes que nos acontecem.

- Ora, segundo dizemos, é o melhor elemento de nós mesmos que quer seguir a razão.

- Evidentemente.

- E o que nos leva à recordação da infelicidade e aos lamentos, de que não pode saciar-se, não diremos que é um elemento irracional, preguiçoso e amigo da cobardia?

- Di-lo-emos, com certeza.

- Ora, o carácter irritável presta-se a imitações numerosas e variadas, ao passo que o carácter prudente e tranquilo, sempre igual a si mesmo, não é fácil de imitar nem, uma vez expresso, fácil de compreender, sobretudo numa assembleia em festa e pelos homens de toda a espécie que se encontram reunidos nos teatros; com efeito, a imitação que se lhes ofereceria assim seria a de sentimentos que lhes são estranhos.

- Certamente.

- Portanto, é evidente que o poeta imitador não se inclina, por natureza, para um tal carácter da alma e o seu talento não se obstina em agradar-lhe, visto que pretende salientar-se no meio da multidão; pelo contrário, inclina-se para o carácter irritável e vário, porque este é fácil de imitar. - É evidente.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 273

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265