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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 274

- Podemos, com razão, censurá-lo e considerá-lo o par do pintor; assemelha-se-lhe no facto de só produzir obras sem valor, do ponto de vista da verdade, e assemelha-se-lhe também por estar relacionado com o elemento inferior da alma, e não com o melhor. Assim, eis-nos bem fundamentados para não o recebermos num Estado que deve ser regido por leis sábias, visto que desperta, alimenta e fortalece o elemento mau da alma e arruína, deste modo, o elemento racional, como sucede numa cidade que se entrega aos maus, deixando-os tornar-se fones e fazendo perecer os homens mais estimáveis; do mesmo modo, diremos do poeta imitador que introduz um mau governo na alma de cada indivíduo, lisonjeando o que nela há de irracional, o que é incapaz de distinguir o maior do menor, que, pelo contrário, considera os mesmos objectos ora como grandes ora como pequenos, que só produz fantasmas e se encontra a uma distância infinita da verdade.

- Com certeza.

- E, contudo, ainda não acusámos a poesia do mais grave dos seus malefícios. Que ela efectivamente, capaz de corromper, mesmo as pessoas honestas, com excepção de um pequeno número, eis, sem dúvida, o que é para recear.

- Certamente, se provocar esse efeito.

- Ouve e considera o caso dos melhores de nós. Quando vemos Homero ou qualquer outro poeta trágico imitar um herói na dor, que, no meio dos seus lamentos, se estende numa longa tirada ou canta ou bate no peito, sentimos, como sabes, prazer, acompanhamo-lo com a nossa simpatia e, no nosso entusiasmo, louvamos como um bom poeta aquele que, no mais alto grau possível, provocou em nós tais disposições.

- Eu sei; como poderia ignorá-lo?

- Mas, quando uma desgraça doméstica nos fere, já notaste que nos esforçamos por manter a atitude contrária, por saber ficar calmos e corajosos, porque isso é próprio de um homem e o comportamento que há instantes aplaudíamos só se adequa às mulheres?

- Sim, notei.

- Ora, é belo aplaudir quando se vê um homem com o qual não gostaríamos de nos parecer - até coraríamos por isso - e, em vez de sentir repugnância, comprazermo-nos com esse espectáculo e louvá-lo?

- Não, por Zeus! Isso não me parece racional.

- Sem dúvida, sobretudo se, analisares o caso deste ponto de vista.

- Como?

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 274

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265