— Queres então que o persuadamos, se conseguirmos descobrir o meio, de que ele não está na verdade?
— Como não havia de querer? — disse ele.
— Se — continuei —, juntando as nossas forças contra ele e opondo discurso a discurso, enumerarmos os bens que a justiça proporciona, se ele replicar por seu turno e nós também, será necessário contar e avaliar as vantagens citadas por uma e outra parte em cada discurso e teremos necessidade de juízes para decidir; se, pelo contrário, como há pouco, debatermos a questão até mútuo acordo, nós seremos conjuntamente juízes e advogados.
— É verdade — disse ele.
— Qual destes dois métodos preferes?
— O segundo.
— Ora então, Trasímaco, voltemos ao principio e responde-me. Pretendes que a injustiça total é mais proveitosa do que a justiça total?
— Com certeza — respondeu —, e já disse por que razões.
— Muito bem, mas a tal respeito como entendes isto: chamas a uma virtude e à outra vicio?
— Sem dúvida.
— E é à justiça que chamas virtude e à injustiça vicio?
— É o que parece, muito encantador homem, quando digo que a injustiça é proveitosa e a justiça não o é!
— Como, então?
— O contrário — disse ele.