O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 24 / 102

Ah, bem sei que é boa pessoa... não precisas de franzir o sobrolho ... é uma excelente pessoa e sempre esperei mais dele; mas, apesar de tudo, não passa de um pedante casmurro, um exibicionista ignorante e insuportável. Nenhum homem me desiludiu tanto como o Lanyon.

- Sabes que nunca o aprovei - prosseguiu Utterson, ignorando impavidamente o novo tema.

- O meu testamento? Sim, claro que sei - retorquiu o médico, com uma certa brusquidão. - Já mo tinhas dito.

- Pois então, volto a dizer-to - insistiu o advogado. Soube umas coisas a respeito desse tal Hyde.

O amplo e elegante rosto do Dr. Jekyll ficou subitamente pálido, e uma expressão sombria passou-lhe pelo olhar.

- Não estou interessado em ouvir mais nada - disse. Pensava que já tínhamos concordado em não falar mais deste assunto.

- Mas o que ouvi era abominável- contrapôs Utterson.

- Isso é algo que não posso contrariar. Não compreendes a minha situação - replicou o médico, com uma certa incoerência nos gestos. - Estou numa situação penosa, Utterson; a minha posição é deveras estranha... mesmo muito estranha. É um daqueles casos que não podem ser remediados com palavras.

- Jekyll- disse o advogado -, conheces-me bem. Sabes que podes confiar em mim. Liberta-te desse segredo que te aperta o coração, e tudo farei para te ajudar a resolver o problema.

- Meu caro Utterson - respondeu o médico -, é muito generoso da tua parte, absolutamente generoso, e não consigo encontrar palavras que exprimam o meu agradecimento.