O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 5 / 102

O homem estava perfeitamente calmo e não oferecia resistência, mas lançou-me um olhar tão ignóbil que me provocou suores frios. As pessoas que tinham aparecido eram, afinal, familiares da menina; e, pouco depois, surgiu o médico, que fora chamado para lhe dar assistência. Afinal, o estado da criança não era assim tão mau; segundo o cirurgião, apenas sofrera um susto, e poder-se-ia pensar que o incidente teria terminado por aqui. Porém, verificou-se uma circunstância curiosa. À primeira vista, tive uma sensação de repúdio pelo cavalheiro. E o mesmo terá sentido a família da criança, como era natrural. Mas o que mais me impressionou foi o médico, um tipo vulgar de boticário, de idade e feições indefinidas, com um carregado sotaque de Edimburgo, e emotivo como uma gaita-de-foles. Pois bem, meu caro senhor, tal como todos os presentes, sempre que o cirurgião olhava para o meu prisioneiro, pude verificar que o seu rosto empalidecia com o desejo de o matar. Compreendi o que lhe ia na mente, do mesmo modo que ele sabia o que eu pensava; porém, como matá-lo estava fora de questão, adoptámos uma melhor alternativa. Dissemos ao homem que poderíamos fazer um tal escândalo com o incidente que o seu nome provocaria uma onda de repúdio de um extremo a outro de Londres. Se tivesse amigos ou crédito, tudo faríamos para que os perdesse. Ao mesmo tempo que o ameaçávamos inflamadamente, esforçávamo-nos por impedir que as mulheres o linchassem, já que estavam tão iradas que pareciam harpias.




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