O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 80 / 102

Ao fim de uma noite malfadada, compus os elementos, vi como fervilhavam e fumegavam no recipiente de vidro e, quando a ebulição diminuiu, comum forte acesso de coragem, bebi a poção.

Sucederam-se as mais atrozes agonias: um ranger dos ossos, uma náusea mortal e um horror do espírito que não pode ser superado na hora do nascimento ou da morte. Depois, estas agonias começaram a diminuir rapidamente e voltei a mim, como se tivesse recuperado de uma grande doença. Havia algo de estranho nas minhas sensações, algo indescritivelmente novo e, dada a sua própria novidade, incrivelmente agradável. Senti-me fisicamente mais jovem, mais leve e mais feliz; intimamente, estava consciente da minha precipitada ousadia, de uma torrente de desordenadas imagens sensuais desfilando em turbilhão na minha fantasia, de uma solução para os vínculos de obrigação, de uma desconhecida mas não inocente liberdade da alma. Reconheci-me mais malévolo, no primeiro sopro desta nova vida, dez vezes mais malévolo, vendido como um escravo à minha maldade original; e, naquele momento, esta ideia envolveu-me e deleitou-me como vinho. Estiquei as minhas mãos, radiante com a novidade destas sensações; e, ao fazê-lo, tive uma súbita percepção de que havia perdido estatura.

Naquela data, não havia espelho na minha sala; o que está colocado ao meu lado, enquanto escrevo, foi trazido posteriormente e precisamente por causa destas transformações.





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