O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 79 / 102

Por duas boas razões, não aprofundarei este ramo científico da minha confissão. Em primeiro lugar, porque me ensinaram que o fado e o fardo da nossa vida recaem para sempre sobre os nossos ombros, e, quando tentamos afastá-los, voltam a abater-se sobre nós com um peso mais estranho e uma pressão mais medonha. Em segundo lugar, porque, como a minha narrativa irá, infelizmente, revelar, as minhas descobertas estavam incompletas. Fora, pois, suficiente que eu não só reconhecesse o meu corpo natural pela aura e pelo fulgor de certos poderes que compunham o meu espírito, mas também que conseguisse elaborar uma droga que destronasse estes poderes da sua supremacia, obtendo com isso uma segunda forma e um segundo semblante, não menos naturais que os anteriores, já que eram a expressão, e continham a marca, de elementos inferiores na minha alma.

Hesitei durante muito tempo antes de submeter esta teoria à verificação prática. Sabia perfeitamente que me arriscava a morrer, já que qualquer droga que controlasse e abalasse tão fortemente os próprios fundamentos da identidade podia, pela mínima porção administrada em excesso, ou tomada num momento inapropriado, eliminar por completo esse tabernáculo imaterial que eu procurara alterar. Mas a tentação de uma descoberta tão singular e profunda acabou por superar os receios mais alarmistas. Há muito tempo que já tinha preparado a minha tintura; adquiri de imediato, a uma firma de farmacêuticos grossistas, uma grande quantidade de um sal particular que eu sabia, pelas minhas experiências, que era o último ingrediente necessário.





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