Aproximei-me do quadrado preto da porta do estúdio; esperava a todo o instante ver surdir uma silhueta formidável. Mas nada saiu; no interior do estúdio reinava a calma. Com precaução, avançámos para o limiar da porta e vasculhámos a obscuridade. O silêncio era total, mas num canto havia outra coisa além da obscuridade: uma nuvem luminosa, avermelhada, com um centro incandescente flutuava; os seus contornos perdiam precisão; a sua consistência adelgaçava-se, diluía-se; em breve apenas ficou no canto o negro espesso e aveludado que enchia toda a sala. Quando o derradeiro clarão se extinguiu, o francês soltou um grito de alegria.
- Como é divertido! Ninguém sofreu nada; há só uma porta partida, e as senhoras tiveram medo. Mas, meus amigos, fizemos aquilo que nunca fora feito antes!
- E nos limites do meu poder - disse Harvey Deacon -, nunca mais o faremos!
Aqui está o que se passou em 14 de Abril último no 17 de Badderly Gardens. Disse atrás que seria grotesco dogmatizar sobre o que realmente sucedeu. Mas comunico as minhas impressões, as nossas impressões (pois tivemos as mesmas, Harvey Deacon, John Moir e eu), pelo que elas valem. Podeis, se tal vos agradar, imaginar que fomos vítimas de uma mistificação complicada e extraordinária. Ou então podeis pensar como nós que passámos por uma experiência muito real e muito terrível. Mas talvez vos entendais melhor do que nós com este género de casos e possais dar-nos parte de aventuras similares? Neste caso, uma carta dirigida a William Margham, 146 M, The Albany, ajudar-nos-ia a ver claro no que para nós permanece muito obscuro.
