- É disparate não o comer! - exclamou o professor, com tanta vivacidade que o sorriso se extinguiu no rosto da jovem, e que o olhar com que a fitava reflectiu a sua gravidade nos olhos dela. - Digo-lhe que é um disparate não o comer esta noite!
- Mas porquê? Porquê? - interrogou ela.
- Porque o tem no seu prato e é pecado deixá-lo perder.
- Alto lá! - interpôs-se resolutamente Mrs. Patterson. - Não a persiga mais! Bem vejo que ela não gosta disso. Mas não ficará nada perdido.
E com a lâmina da faca fez passar o caviar do prato de Miss Jessie para o seu.
- Deste modo não haverá desperdício. Acalme-se, professor.
Mas o professor não parecia acalmar-se. Ao ver a agitação do seu rosto, dir-se-ia um homem diante de um obstáculo inesperado e formidável. Afundava-se nos seus pensamentos.
A conversa zumbia, alegre. Todos tinham mil projectos para o futuro.
- Não, não, não há férias para mim - dizia o padre Pierre. - Nós, os sacerdotes, não conhecemos férias. Agora que temos de pé a missão e a escola, vou deixá-las ao padre Amiel, e mexer-me no Oeste, para criar outras.
- Vai partir? - espantou-se Mr. Patterson. - Não quer dizer que deixa Ichau?
O padre Pierre meneou, com ar de reprovação travesso, a sua cabeça venerável.
- Fica-lhe mal parecer tão encantado, Mr. Patterson.
- Meu Deus, os nossos pontos de vista, sem dúvida, são diferentes disse o presbiteriano -, mas não temos contra si nenhum sentimento pessoal, padre Pierre. Aliás, como é que um homem instruído e razoável pode, nesta altura da história do mundo, ensinar a estes infelizes pagãos, ainda mergulhados nas trevas, que...
Um murmúrio geral de protesto fê-lo engolir a sua teologia.
- E o senhor, Mr. Patterson, que vai fazer? - perguntou alguém.