A vida derramou-se como água ao longo desta escada de caracol e, tal como a água, deixou estes sulcos lisos com a usura. Desde os alunos pedantes e de saia comprida da era dos Plantagenetas até aos puros-sangues destes últimos anos, que fluxo poderoso da jovem vida inglesa se escoou por ali! E que resta agora de todas estas esperanças, destes esforços, destas ferozes energias, senão algumas linhas numa pedra tumular ou um punhado de poeira num caixão ao acaso dos cemitérios? Mas a silenciosa escada e a velha parede grisalha ainda enfeitada com emblemas heráldicos continuam a subsistir.
No mês de Maio de 1884 três jovens ocupavam os três apartamentos que davam para os três patamares da escada. Cada apartamento comportava simplesmente um pequeno salão e um quarto. No rés-do-chão, as divisões correspondentes eram utilizadas, uma como cave do carvão, a outra como alojamento do criado; Thomas Styles estava ao serviço dos três estudantes que habitavam por cima da sua cabeça. À direita e à esquerda estendia-se uma fiada de salas de aula e de gabinetes, de tal modo que os inquilinos da velha torre beneficiavam de um certo isolamento muito apreciado por rapazes estudiosos. Estudiosos eram, aliás, os três ocupantes da época:
Abercrombie Smith no terceiro andar, Edward Bellingham por baixo, e William Monkhouse Lee no primeiro andar.
Eram dez da noite, uma noite clara. Abercrornbie Smith estava enterrado no seu cadeirão, os pés no guarda-fogo, um cachimbo de madeira entre os dentes. No segundo cadeirão, não menos confortavelmente instalado, o seu velho camarada Jephro Hastie preguiçava do outro lado da chaminé. Ambos envergavam fatos de flanela, porque tinham passado o serão no ribeiro; aliás, bastava observar-lhes os rostos alegres com feições duras para adivinhar que apreciavam o ar livre com tudo o que era viril e robusto.