Smith, debruçado para ele, disse para consigo que nunca vira tão nitidamente os sinais de alarme da natureza numa fisionomia humana; de súbito, recordou-se com menos cepticismo da advertência de Hastie.
- Qual é então a coisa que o apavorou a tal ponto? -
perguntou.
-A múmia.
- A múmia? Como assim?
- Não sei. É mórbida, infecta. Eu preferiria que ele se
desembaraçasse dela. Esta é a segunda vez que me mete medo. No inverno passado, foi a mesma coisa. Encontrei-o exactamente como hoje, com esta abominação à sua frente.
- Afinal o que procura ele na múmia?
- Oh, é um maníaco! Um maníaco da múmia. Sabe
mais sobre as múmias do que qualquer inglês vivo. Mas eu teria preferido que soubesse menos! Ah, está a voltar a si!
Vagas cores começavam a aflorar às faces pálidas de Bellingham; as pálpebras estremeceram. Cerrou e descerrou os punhos, aspirou uma baforada de ar entre os dentes, depois de súbito soergueu a cabeça e passeou à sua volta um olhar de exploração. Quando os olhos deram com a múmia, levantou-se com um salto, pegou no rolo de papiro, atirou-o para uma gaveta que fechou à chave, regressou a vacilar para o canapé.
- Que se passa? - perguntou. - Que querem de mim, meus amigos?
- Gritou e fez uma barulheira dos diabos - respondeu Monkhouse Lee. - Se o nosso vizinho de cima não tivesse descido, pergunto-me o que teria podido fazer sozinho!
- Ah, é Abercrombie Smith! - disse Bellingham encarando-o. - Como foi amável em ter vindo! Que figura de idiota a minha! Oh, meu Deus, como sou idiota!
Enterrou a cabeça nas mãos e rompeu num riso histérico que nunca mais acabava.
- Cuidado! Pare! - gritou Smith enquanto o sacudia com rudeza pelo ombro. - Os seus nervos estão completamente destrambelhados.