Bellingham fitou-o com um misto de estupefacção e de raiva.
- Então julga que está em sua casa? - disse ele com uma voz mal segura.
Smith sentou-se resolutamente, pousou o relógio na mesa, puxou pelo revólver, verificou que continuava armado e instalou-o nos joelhos. Depois extraiu da algibeira o bisturi e atirou-o a Bellingham.
- Agora mãos à obra! - disse. - Faça-me esta múmia em farelos.
- Oh, isso é assim? - zombou Bellingham.
- Sim, é assiml Garantiram-me que a lei nada pode contra si. Mas trouxe uma lei que resolverá o assunto. Se dentro de cinco minutos não tiver metido mãos à obra, juro pelo Deus que me criou que lhe faço saltar o cérebro!
- Assassinar-me-ia?
Bellingham soerguera-se da cadeira; tinha a cara da cor do mastlque. -Sim.
- E porquê?
- Para pôr termo às suas malfeitorias. Faltam só quatro minutos.
- Mas que fiz eu?
- Eu sei e você sabe.
- É uma artimanha!
- Três minutos...
- Mas enfim, dê-me as suas razões! Você enlouqueceu...
Um louco perigoso! Por que destruiria a minha múmia? Ela pertence-me e vale muito dinheiro!
- Vai recortá-la e queimá-la!
-Nunca!
- Não lhe resta mais do que um minuto.
Smith ergueu o revólver e fitou Bellingham com olhos impiedosos. Como o ponteiro dos segundos girava, deitou Bellingham de lado e pôs o dedo no gatilho.
- Está bem! Está bem! Vou queimá-la - berrou Bellingham.
Com uma pressa febril apoderou-se do bisturi e lacerou o corpo da múmia, sempre a virar-se para vigiar o seu terrível visitante que se debruçava para ele. A múmia estalava e rasgava-se com ruídos secos a cada golpe da lâmina cortante. Uma espessa poeira amarela escapou-se-lhe do corpo. Especiarias e essências secas espalharam-se no sobrado.