Andámos por aqui e por ali, pelo mundo fora, surgindo sempre qualquer coisa que nos afastava de Londres. Mas nunca perdi de vista o meu propósito. Sonhava com Sholto durante a noite. Matei-o mil vezes enquanto dormia. Por fim, há uns três ou quatro anos, chegámos a Inglaterra. Não foi difícil saber onde Sholto vivia, e tentei descobrir se tinha vendido o tesouro ou se ainda o possuía. Travei amizade com uma pessoa que me ajudou - não digo nomes, pois não quero comprometer ninguém -, e fiquei a saber que possuía ainda as jóias. Tentei aproximar-me dele de várias maneiras; mas era esperto e tinha dois pugilistas a guardá-lo, além dos dois filhos e do criado.
»Um dia, porém, ouvi dizer que estava a morrer. Dirigi-me apressadamente para a casa, entrei no jardim, desvairado ao pensar que ele me ia escapar assim, e, quando olhei pela janela, vi-o deitado na cama, ladeado pelos filhos. Eu ia entrar e enfrentar os três, mas, ao olhar para ele, o queixo descaiu-lhe, e percebi que morrera. Nessa mesma noite entrei no quarto e procurei nos seus papéis qualquer indicação do local onde escondera as nossas jóias. Mas não encontrei nada e vim embora, mais furioso e amargurado que nunca. Antes de sair, pensei que se voltasse a encontrar os meus amigos sikhs, eles ficariam satisfeitos ao saber que deixara uma marca do nosso ódio; por isso, rabisquei o sinal dos quatro, como fizera no mapa, e prendi-o sobre o corpo. Era de mais que Sholto fosse para a sepultura sem nenhuma lembrança dos homens que roubara e enganara.
»Ganhávamos a vida, nessa altura, com a exibição do pobre Tonga nas feiras e em outros sítios. Era um canibal preto, comia carne crua e fazia a sua dança de guerra: ficávamos sempre com um chapéu cheio de dinheiro depois de um dia de trabalho.