- Sim; conservou o hábito do meu pai. Era o filho favorito, sabe? Por vezes penso que o meu pai lhe contou mais coisas que a mim. Aquela janela onde bate o luar é a de Bartholomew. Está bastante iluminada, mas parece que a luz não vem lá de dentro.
- Não - disse Holmes. - Mas vislumbro uma luz naquela janelinha ao pé da porta.
- Ah, é o quarto da governanta, onde fica a velha Sr.ª Bernstone. Ela poderá esclarecer-nos. Mas talvez seja melhor esperarem aqui um ou dois minutos, porque se entramos todos, não tendo ela conhecimento da nossa vinda, pode ficar assustada. Mas... silêncio!, que é aquilo?
Ergueu a lanterna na mão trémula e os círculos de luz projectaram-se à nossa volta. A Menina Morstan agarrou o meu pulso, e pusemo-nos todos à escuta com os corações a bater violentamente. Da grande casa escura veio, através da noite silenciosa, um tristíssimo e deplorável som - o lamento penetrante de uma mulher aterrorizada.
- É a Sr.ª Bernstone - disse Sholto. - É a única mulher da casa. Esperem aqui. Voltarei num segundo.
Correu para a porta e bateu, à sua maneira peculiar. Podemos ver uma mulher idosa, alta, deixá-lo entrar, que se mostrou satisfeita por o ver.
- Oh, Sr. Thaddeus, ainda bem que veio! Ainda bem, Sr. Thaddeus!
Ouvimo-la reiterar a sua satisfação até que a porta se fechou e a sua voz se tornou um sussurro abafado.
O nosso guia deixara-nos a lanterna. Holmes fê-la incidir sobre a casa e sobre os montes de terra à sua volta. Eu e a Menina Morstan continuámos juntos, a sua mão na minha. O amor é uma coisa espantosamente subtil, pois ali estávamos os dois, nunca nos tendo visto antes, nunca tendo trocado qualquer palavra ou sequer um olhar de afecto, e, contudo, naquela hora de aflição as nossas mãos procuravam-se instintivamente.