Quando se apoiou sobre o seu grosso varapau de carvalho ergueu os ombros num esforço para inspirar profundamente. Trazia um cachecol colorido à volta do pescoço, cobrindo-lhe o queixo, e da cara quase que apenas via os olhos escuros e penetrantes, as espessas sobrancelhas brancas e as longas suíças grisalhas. Pelo seu aspecto tive a impressão de que se tratava de um respeitável capitão de navio que envelhecera e caíra na pobreza.
- Que se passa, homem? - perguntei.
Olhou em volta, com a lentidão e o método próprios da velhice, e disse:
- O Sr. Sherlock Holmes está?
- Não mas eu estou a substituí-lo. Pode transmitir-me qualquer mensagem que tenha para ele.
- Era com ele próprio que queria falar - retorquiu.
- Mas estou a dizer-lhe que pode falar comigo. Era acerca do barco de Mordecai Smith?
- Sim. Sei muito bem onde está. E também sei onde estão os homens que ele quer encontrar. E sei onde está o tesouro. Sei tudo.
- Então fale, que eu depois digo-lhe.
- Era com ele que queria falar - repetiu com a petulante obstinação de homem muito velho. - Bem, tem de esperar que ele chegue.
- Não, não. Não vou perder um dia inteiro à espera. Se o Sr. Holmes não está cá, então o Sr. Holmes que descubra tudo sozinho. Não quero saber dos senhores para nada e não direi nem uma palavra.
Dirigiu-se para a porta, mas Athelney Jones pôs-se à frente dele e disse:
- Espere um pouco, meu amigo. Você tem uma informação importante e não deve ir-se embora. Temos de retê-lo aqui, quer queira quer não, até que o nosso amigo volte.
O velho deu uma corrida em direcção à porta, mas Athelney Jones interpôs-se mais uma vez, tapando a porta com o seu corpo avantajado. O velho marinheiro reconheceu que era inútil insistir.