Camões - Cap. 1: CANTO PRIMEIRO Pág. 16 / 177

.. Aqui amigos,

Cristãos, mercê de Deus, somos nós todos

Quantos somos aqui. E ao céu não praza

Que um cavaleiro português arranque

Contra seu natural armas de sangue.

Perdoai as lhanezas de um soldado

Que cercos também viu, e jogou lanças

Com mouros e gentios: - neste velho

Corpo nem sempre andou burel de monge;

Malha também vestiu... - mas uma espada

Ou na batalha em mãos de cavaleiros,

Ou fora dela a rufiões só cabe».

- «Tão covarde não sou que a tal contrário...»

Balbuciou, serenando o cavaleiro:

«Mas» - e de novo a voz se lhe animava,

«Mas o meu Jau fiel, o meu amigo,

Único amigo!»

- «Honra-vos dizê-lo,

Honra-vos, cavaleiro» torna o velho,

«Que andrajos e pobreza vos não pejam,

E ousais chamar amigo ao desgraçado.

Mas, filho... mas, senhor, não há bom feito

Que justifique um mau.





Os capítulos deste livro