Camões - Cap. 2: CANTO SEGUNDO Pág. 29 / 177

queres pleitear ainda

Na igualdade terrível do sepulcro?

Desengano da morte, és tu acaso

Outro sonho dos míseros viventes?

Quem desenganas tu? - Viram de longe,

Caminho do mosteiro, os viajantes

Enfiar a porta máxima do templo

Ordem longa de tochas, baço lume,

Clarão triste de mortos. Sons perdidos

Do psalmear monótono lhes trouxe

A gemedora viração da noite;

E o ar pelos ouvidos lh’estremece

Com o dobrar das campas desentoadas.

II

Ruim agouro! Um saimento fúnebre

Ao regressar à pátria! Não se pôde

Conter do involuntário pensamento

O português viajante. Mal conhece

A intrepidez dos bravos esse louco

Terror do vulgo que estremece à vista

Dum gélido cadáver: costumados

A ver a face pálida da morte,

As agonias roxas, e o transido

Suor do passamento, - não se movem

Seus músculos tão fácil.





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