Camões - Cap. 3: CANTO TERCEIRO Pág. 49 / 177

»

IX

Do Lusitano ao descorado gesto

Esvaecido rubor assoma, - e foge,

Qual foge aos olhos o lampejo rápido

Da trovoada longínqua. - Um tanto a face

Descaiu sobre o peito amargurado,

E com voz, firme não, porém serena,

Disse: - «Luís de Camões tinha um amigo

Único só na terra. - Não te escondas,

Meu fiel companheiro: um feito honrado,

Generoso te peja? - O pobre António

Foi até aqui, senhor, o único vivo,

Único ser na face do universo

Em quem meu coração achou abrigo.»

X

Pelas faces do escravo, baga a baga,

Enternecidas lágrimas caíam,

E peito sufocado comprimia

A custo grande o soluçar que o arfava.

Não pode mais: aos pés se deita do amo,

E sem conter o choro:

- «Oh! não me digas

Não me digas, senhor, que sou amigo.»

- «Não o diga! Porquê?»

- «Porque isso parte

O coração do escravo.





Os capítulos deste livro