Camões - Cap. 4: CANTO QUARTO Pág. 79 / 177

XI

«Cheia a imaginação do misterioso

Sonho ou visão que, no moimento sacro

De Manuel, me incendiara a fantasia,

Embalde aos p’rigos, ao furar das ondas,

Ao mais cru das batalhas me arrojava.

Se era meu fado a glória, mais potente

Foi que o meu fado a inveja de inimigos,

Ódios, perseguições. - Já malferido

De eiva de morte arqueja o império d’Ásia.

Os devassos costumes, a impiedosa

Sede de mando, a sórdida cobiça

Dos ministros da lei, e até - sincero,

Franco é meu discorrer, e em mal! bem certo...

Dos que, indignos do altar, o altar profanam

Com sacrifícios bárbaros de sangue,

A um Deus só de paz e de bondade,

Em vez do puro incenso de virtudes,

Negro vapor de pálidos cadáveres,

Suspiros da viúva, ais do órfão triste,

Lágrimas, sangue e morte oferecendo.





Os capítulos deste livro