Camões - Cap. 5: CANTO QUINTO Pág. 86 / 177

CANTO QUINTO

Repousa lá no céu eternamente

E viva eu cá na terra sempre triste.

Camões, Sonetos

I

«Correi sobre estas flores desbotadas,

Lágrimas tristes minhas, orvalhai-as,

Que a aridez do sepulcro as tem queimado.

Rosa d’amor, rosa purpúrea e bela,

Quem entre os goivos te esfolhou da campa?

II

«O viço de meus anos se há murchado

Nas fadigas, no ardor sevo de Marte;

Estranhas praias, ignoradas gentes,

Bárbaros cultos vi; gemi n’angústia,

Penei ao desamparo, em soledade;

Vaguei sozinho à míngua e sem conforto

Pelos palmares onde ruge o tigre:

Tudo sofri no alento duma esp’rança

Que, no instante de vê-la me há fugido...

Rosa d’amor, rosa purpúrea e bela,

Quem entre os goivos te esfolhou da campa?

III

«Longe, por esse azul dos vastos mares,

Na soidão melancólica das águas

Ouvi gemer a lamentosa Alcíone,

E com ela gemeu minha saudade.





Os capítulos deste livro