Camões - Cap. 5: CANTO QUINTO Pág. 92 / 177

A amena veiga

Delicioso vale a quem de Tempe

Cede beldade e fama, se estendia

Pelas faldas da serra. As perfumadas

Árvores d’áureos pomos reluzentes

Que à veloz Atalanta o pé ligeiro

Na apostada carreira retiveram,

E o tão ligado cinto desataram;

As verde-escuras, espinhosas plantas

Donde, virgíneas tetas imitando,

Pende o céreo limão, - pendor não grato

No lindo pomo a que o semelha o vate -

Sobre a relva, inda fresco-rociada

Das lágrimas da aurora, se avistavam

Pela imensa campina recolhendo

A aura criadora nas lustrosas folhas

Donde a vida nos troncos se derrama.

Toda se alvoroçava a natureza

À vinda alegre dessa luz benéfica,

Remoçadora eterna da existência,

Cujas são alma e vida do universo.

X

Em toda a pompa e luxo de suas galas

Sintra, a formosa Sintra se amostrava

Ao monarca das luzes, - qual princesa

Do Oriente ao régio noivo se apresenta,

Voluptuosos perfumes exalando

Das longas sedas com que brinca o zéfiro.





Os capítulos deste livro