Que hábil advogado é César em A Guerra das Gálias e também que hábil narrador!
Pelo estilo nu, despojado, que lhe é habitual, usando este vocabulário muito simples, de que fez para si uma regra, em que «foge como de um escolho de toda a palavra nova e insólita», indo sempre direito ao objectivo, César dá aos seus Comentários o tom impessoal, «objectivo», de um comunicado. O efeito perante o leitor é inteiramente maravilhoso: acredita-se estar lendo a linguagem da própria verdade.
Nenhuma retórica, pelo menos aparente. Nada que não sejam factos. As alocuções dos Comentários não são amplificações nem obras-primas literárias, como na maior parte dos historiadores latinos. São discursos realistas, em que cada argumento traz a sua própria substância. São actos. Quando perto de Besançon tem a ideia de combater os Germanos e o pânico se apodera dos legionários, César não diz belas frases aos seus soldados: começa por lhes dizer que eles se intrometem naquilo que só a ele diz respeito; depois, consentindo em discutir com eles, tranquiliza-os com factos: 1) Roma já venceu os Germanos; 2) os próprios Helvécios, muito inferiores aos Germanos, já os venceram também; 3) o exército está bem abastecido, etc. E para concluir, declara-lhes que se não o seguirem, ele marchará apenas com a décima legião. Nenhum apelo ao sentimento; nada que não seja sólido.