Stendhal, um dos casos mais belos da minha vida, pois tudo quanto na minha vida fez época é-me trazido pelo Acaso, não por recomendação - está acima de todo o apreço, com o seu antecipador olhar de psicólogo, com aquela sua maneira de assenhorear-se dos factos, que recorda a proximidade do maior entre os grandes realistas (ex ungue Napoleonem); por fim, não é menos digno de apreço como honesto ateu, uma species rara em França, seja dito em honra de Próspero Mérimée...
Estarei eu com ciúmes de Stendhal? Devo-lhe a melhor expressão de ateísmo que seria possível inventar: «A única desculpa de Deus é não existir». E eu próprio disse em certo passo: Qual foi até 'agora a maior objecção contra a existência? Deus...
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Foi Henrique Reine quem me deu o mais alto conceito de lirismo. Procurei em vão em todo o curso dos séculos música tão suave e tão apaixonada. Possuía Reine aquela divina ironia sem a qual não concebo a perfeição; ora eu aprecio o valor dos homens e das raças pela maneira como sabem manter a inseparabilidade de deus e do sátiro.