Gente de Dublin - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 69 / 117

A campainha tocou furiosamente e quando Miss Parker levantou o auscultador, apareceu uma voz que, acusando o forte acento do Norte da Irlanda, gritou:

- Mande Farrington aqui, imediatamente!...

Miss Parker voltou para a sua máquina, enquanto dizia para o homem que trabalhava na mesa vizinha:

- Mr. Alleyne quer que vás lá cima...

O homem resmungou «Diabos o levem!...», afastou a cadeira e ergueu-se. Era alto e corpulento. Tinha a cabeça equilibrada; sobrancelhas e bigodes loiros, os olhos ligeiramente salientes. Abriu a portinhola do balcão e, atravessando a fila de clientes, abandonou a sala com passos pesados.

Lentamente, subiu as escadas até atingir o segundo andar, onde, numa porta, haviam afixado a seguinte inscrição: «Mr. Alleyne». Ao chegar ali, estacou, procurando acalmar-se. Finalmente, decidiu-se e bateu. De dentro, veio uma voz áspera:

- Entre!

Ele entrou no escritório do chefe. Nesse mesmo instante, Mr. Alleyne, homem minúsculo, de óculos com aros de ouro, levantou a cabeça e exclamou sem perda de tempo:

- Farrington, que significa isto? Por que motivo me obriga sempre a chamar-lhe a atenção? Poderá dizer-me por que não tirou a cópia do contrato entre Bodley e Kirwan?.. Disse-lhe que queria isso pronto às quatro horas!

-. Mas Mr. Schelley disse...

- Mr. Schelley disse... É favor dar atenção ao que eu digo e não ao que Mr. Schelley diz... Você, quando faz asneiras, arranja sempre desculpas... Pois fique sabendo que se o contrato não estiver copiado antes da tarde, farei queixa a Mr. Crosbie... Está a ouvir?

- Estou, sim, senhor...

- Ouviu-me bem, agora?.. Ah!... E outra

coisa!... Falar consigo é o mesmo que falar com as paredes!... É preciso que entenda, de uma vez para sempre, que o período para o almoço é de meia hora e não de hora e meia, compreendeu?

- Sim, senhor...

Mr. Alleyne voltou a embrenhar-se no trabalho. Farrington olhou fixamente o crânio polido que dirigia os negócios da firma Crosbie e Alleyne, avaliando a sua fragilidade. Um espasmo de fúria comprimiu-lhe a garganta por uns momentos, que depois passou, deixando-lhe uma impressão aguda de sede. Conhecia bem essa sensação, e pensou que necessitava de uma noite de embriaguez. Estava-se nos meados do mês, e se a cópia aparecesse a tempo, talvez Mr. Alleyne lhe consentisse meter um vale. Continuou a olhar fixamente para a cabeça do chefe.





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